8.2.11

o fim, o recomeço



Tinha medo de mostrar o que escrevia. Do que iam pensar, se seria bom o suficiente.

Há cinco anos eu tomei coragem e não só criei este blog, como contei pras pessoas que ele existia. Aí que muita gente gostou, em geral foram mais elogios do que críticas. Depois fiquei soltinha, bem soltinha. E perdi o medo. E toquei o foda-se porque nem tudo que faço precisa ser incrível. Não dá. E a gente faz o que pode.

Aqui eu fiquei nua de corpo e alma. E não porque todas as histórias eram tim-tim por tim-tim verdadeiras, mas porque minha verdade sempre esteve presente. Aqui sempre fiz o que quis e sempre fui feliz. Não só quando alguém dizia gostar (obrigada), mas sempre que eu escrevia e postava um novo texto e me sentia livre.

Acontece que em cinco anos eu mudei (claro). Os motivos que me levaram a criar o Malagueta se transformaram em outros desejos. Minha ânsia de ser livre acalmou, porque hoje sou livre sempre. Precisava daqui pra ser mais eu. Agora já sou.

Deu vontade de mudar de casa e fazer tudo novo.

O Malagueta fica aqui, mas eu saio. Muita gratidão a quem visitou regularmente, ou nem tanto. A quem ficou inspirado (não importa pra quê...), a quem odiou, a quem mexeu com meu coração de algum jeito que resultou numa frase emocionada ou desavergonhada.

O Malagueta é a coisa que mais me orgulho de ter feito. Mas eu quero fazer mais. E logo convido vocês pra uma visita na casa nova.

Amor sempre.

Erica

29.11.10

MACHO-DRAMA




Tem que colocar as prateleiras. Ele leva a furadeira. Mas cadê o nível, as buchas, parafusos? Não tem. Depois de algumas semanas passo na loja de material de construção. Com todos os materiais necessários, me sinto até apta a executar eu mesma a tarefa. Por que não? Não deve ser difícil furar uma parede com uma ferramenta elétrica que serve exatamente pra isso. Mas resisto. Quero que faça isso por mim.

Ele se coloca à frente da parede fazendo muitas caretas, a cada minuto perguntando “cadê o lápis, o nível?” Tudo aqui. Penso assim, ele tá nervoso, tá difícil, e me ofereço pra ajudar. Vai tudo bem até que eu faça a primeira cagada – deixar escapar o tal do nível quando ele está prestes a fazer a marcação de onde furar. Me sinto uma criança que fez caca, ele pragueja. Tento outro método pra acalmar o bicho e ofereço o que penso ser a mais infalível das ajudas, no caso dele: um drink? “Não”. A coisa é séria.

Já começo a perder as esperanças de uma atividade caseira conjunta bem-sucedida, o que pra mim queria dizer que, além de ter a prateleira no lugar, o processo seria uma coisa tranquila e até romântica, a cada furo eu lhe daria beijinhos e ele tomaria um gole do meu drink gelado.

Resolvo deixá-lo sozinho e vou fazer qualquer coisa na sala, mas de cinco em cinco minutos ele me chama. Continua praguejando entre os ruídos da furadeira e vez por outra berra palavrões. Eu só penso que chato, que chato, que chato. A atividade-caseira-romântica virou apenas um martírio necessário. Faço um drink e tomo sozinha. Penso que da próxima vez vou tentar fazer sozinha, assim me poupo desse drama por causa de uma prateleira.

Passo pelo quarto e o vejo fazer muita força com a chave de fenda. Ele ensina que conforme vai parafusando, a bucha vai se expandindo na parede e por isso é difícil. Me retiro outra vez, certo, não é tão simples como eu pensava, mas precisa praguejar?

Até que um grito de alívido vem do quarto: terminou! E finalmente ele está feliz e orgulhoso. Finalmente beijinhos e carinhos, ele me pede um drink. Ele explica, como quem se desculpa, que esse é o tipo de trabalho que se faz justamente para praguejar, para sofrer um pouco e xingar cada dificuldade. Só assim o orgulho de ter cumprido a missão é válido.

Faz muito sentido. Aprendo que se o seu amor pega a furadeira, esqueça o nhém-nhén-nhém. Isso é hora de ser macho, entendeu? Tome seu drink e seja feliz.

4.5.10

Azul

Não dá pra ser a vida toda você e eu no meu quarto azul assistindo filme no computador e tomando sorvete. A chuva caindo. Uma hora a gente tem que sair e as escolhas todas lá fora, os segredos para serem descobertos.

Li esses dias que amor eterno é amor impossível. Fiquei com vontade de te dizer que, olha que legal, a gente pode ter nosso amor pra sempre porque ele de fato não vai acontecer do jeito que “deve” acontecer. Quero dizer, o jeito que a gente tem medo porque acha chato, mas acaba querendo. Porque é amor.

Quando me dou conta estou com raiva do teu chope com os amigos e minha espera em vão, frustrada de ter imaginado as coisas gostosas que faria se você chegasse.

Me dá sensação de que a gente não é real. Só existimos nessa atmosfera de gozo e sorriso, cócegas no azul do meu céu. Eu sei que você também não quer sair. Vamos ficar aqui, vamos. Eu te amo.

29.3.10

cartas achadas



É amor isso, Billy? Que a gente vai fazer, o que vamos ser? A gente vai virar um casal bunda? Não pode. Tu tem que ser sempre assim. Eu pra sempre quero rir das tuas nóias. Mas se for amor, desses que a gente vê por aí, certo que vai chegar a hora de odiá-las. Meu medo é deixar tudo acontecer e chegar esse dia. Que o que é bom passa a ser ruim, que o que é engraçado passa a ser um saco. Esse dia, Billy, eu não admito pra nós.

3.2.10

necessidade, vontade

Tenho saudade de nóis dois. Tenho medo. E uma incrível vontade, que não cabe em mim e me dá mais medo. Do que estou perdendo e vou perder. De não ser tão feliz quanto acho que posso, quanto sinto dentro que há.

Vontade de ser intensa e olhar nos olhos, me dissipar nos liquidos, perder meu corpo de mim e voar na bruma de zuuuummm. Sou o amor o gozo a calma.

Preciso saber e esquecer, entregar pra o diabo que me carregue e deixe, que eu chore de tanto que entorna, entre as pernas e as bocas, entre as mãos e a bunda, nos cabelos e todos os pelos.

Estas noites de meus lençóis brancos sem mancha, revirados pelos meus sonhos e nada mais que os toque, a não ser esse sono inquieto. Uma caixa de memorias de risos e gozos no azul. Um zunido no ouvido – os resquícios dos gritos.

Por favor, vem.

13.1.10







16.11.09

juro

tem vezes que eu queria viver pelas praias do mundo, namorar surfista e só falar de coisas amenas e belas.
tem vezes que eu queria viver numa casa ensolarada, ouvindo jazz e cozinhando, toda linda, com uma taça bebericando
tem vezes que eu queria ser cantora, viver em paris, vestir salto todo dia, ser feliz
tem vezes que eu queria viver pelas praias do mundo, numa casa ensolarada cozinhar bebericando vinho e cantando, escrever coisas belas e ser feliz.

20.9.09

manha


foto: Autumn Sonnichsen (chic!)

Sempre forte, decidida, independente. Resolve tudo, paga contas, mercado, feira. Pleneja almoço, jantar, dá cabo às dores, sejam do corpo ou da alma. Então sente esvaziar, apertar e corroer, vontade de se largar. pedir, reclamar. Vozinha, conchinha na cama, beicinho. Vira a menina que machucou o joelho pulando o muro do prédio.
"Faz assim, pega pra mim. Dorzinha, frio, soninho..."
Mas assim não é bom, a mulher diluída no edredom sem resquício de malícia. Nem vem, pode voltar, cadê Ela?
"Agora não que eu tô manhosa".

1.8.09

oceano meu


A praia era extensa, as ondas gigantes. Azul marinho. Em alguns trechos se formavam grandes falésias de areia. Senhoras diziam que era a praia mais chique do momento. Eu percorria um longo caminho de bicicleta para chegar ali e começava a sentir que dias seguidos nessa rotina estavam surtindo efeito no meu corpo. Estava leve e não queria mais voltar. Alguém me esperava, não havia comunicação, eu demorava. Mas queria assim e assim fazia. Continuava ali.

Também notei que a brisa maritima havia modificado meus contornos e minha pele tinha um brilho incomum. Lembro de em certo momento estar com meu pai em frente ao mar, e ao notar que estávamos com uma parede de areia logo atrás e as ondas cresciam, peguei sua mão e o encaminhei mais para frente, onde não havia perigo de sermos encurralados pela água salagada. Eu não tinha medo. Nada. Curiosamente, estava calma como não me lembro de ter estado, destemida e despreocupada com o que quer que pensassem de mim. Esatava feliz.

30.7.09

quereres


Ele é só um amigo com quem dividi um par de meses tentando fazer algo bonito num lugar muito feio. Tentando convencer pessoas feias de que as coisas bonitas valem a pena. Então ele foi embora, o lugar feio não faz mais parte da minha rotina.

Hoje li uns textos dele e coisas bonitas me vieram ao coração. Tive inveja dele, porque é artista e eu queria ser também. Apenas fazer coisas bonitas e ser livre. Uma liberdade de pensar num espaço maior, de não ter tantos limites, de flutuar em nuvens de imagens e pensamentos simples e belos. Essa é minha idéia, não que seja assim. Não sei como é. Sei que queria ganhar dinheiro só pra fazer coisas bonitas. E isso eu sei que ele faz.

Também teve o que ele escreveu sobre mudança, uma determinação em deixar coisas pra trás que eu não tenho. Arrasto, com medo e confusão. E teve outro sobre Ele, a Outra, Ela, Uns e Outros. Eu queria ter escrito este.

Fiquei pensando no que eu quero e vi que era hora de escrever de novo. E fazer mais força pra ser o que eu quero ser.

17.6.09

céu









De bicicleta. Tanto tempo, lá no bairro. A mesma tranquilidade agora, mochila nas costas, ruas planas do Soure, na Ilha de Marajó. Sol manso, nuvens mutantes, aos montes, o rio cercando todo o mato das travessas. Vou da quarta à 13a, sozinha inha. Por que não fico tranquila assim todo o tempo? Medo besta, de ter medo.
Da rede a chuva caindo grossa e inofensiva, água boa até. Tentando ler livro mas as palavras apenas sucedem sem registro. Cabeça dura. Fica tranquila. Por que não? Tento lembrar da última vez que essa paz, esse centro, esse tudo que eu busco e não encontro, de apenas ler, fazer e ser. Faz tempo.
A tardinha e só uns pingos que caem dos matos. Penso em gravar isso, não sei pra quê. Depois acho encaixe. É bonito. É tudo tão bonito aqui. Por que não sossego e dou pra pensar nessa micharia de ele onde está, e se me dá piripaque, que barriga essa minha, não vou beber mais cerveja.
A pele pinica na rede um tantinho, lamento ter pego sol a pino. De moto na estrada cercada de mangue e nuvem que não acaba. Só pode ser a maldição de uma chatura permanente lamentar coisa dessas. De um lado o sol caindo e talhando o céu de laranja e rosa, do outro a lua reinando prata num azul aveludado. Sorrio toda suspiros ali no meio, cheia de vento desanuviando a praga do meu desasossego.

21.5.09

Virilha íntima

Tá tranquilo, nem doeu tanto
Ah, que bom...
Pode continuar na boa
Tá indo bem
Ah, eu precisava disso, não aguentava mais
Mulher sofre, né?
Mas vale a pena
Segura, abre assim um pouco pra mim
Tá bom?
Tá. Ela é juntinha... A minha não
São todas diferentes, cada uma de um jeito, né?
A sua é fechadinha, a minha já é toda aberta
Oferecida!
Hahaha, é mesmo
A minha é mais tímida
É tão bonitinha, é fofinha...
Ela esconde o ouro
O cara tem mais trabalho, tem que procurar
Hahahah
Nem dá pra ver o sininho!
Não, fica escondido
Queria que a minha fosse assim
Jura?
É bonita
Eu acho às vezes que parece de criança. Por isso não tiro tudo...
Ah, é por isso... Se não ia parecer de bebê
Quando tirei tudo fiquei assustada com isso. Estranho
Melhor assim. Vê se tá bom
Ah, tá legal
Se você quiser posso tirar mais aqui pra dentro...
Não, acho que assim tá bom
Também acho
Então obrigada!
De nada, querida. Tá com a diversão garantida pro fim de semana
Agora sim. Tchau.

18.5.09

Corda no pescoço



Aprendi a delícia de bagunçar minha pressão sanguínea com teus dedos unidos no meu pescoço. Me apaixonei pelas tuas mãos, costurando minhas veias em novos caminhos.

Rendida, desde a mandíbula até o tórax.
Vulnerável e amorosa. Líquida.

Tua boca distorcida, olhar possuído. Tua mão noutra jugular. Enfim me mata.

15.5.09

Deixa


De mágoa e tempo perdido. De não me enxergar. Ganhei zilhões de memórias pra usar na hora da cena do chôro. No mais hoje eu rio, bastante. E gozo, tanto. Me encontrei aqui, tava marcado há tempos. O que eu digo importa e muda, o que ouço não destrói, transforma, eleva. Agora sou 'the womanliest woman', maravilha, a vida é boa, apesar da ressaca. Danço gostoso, é som de negão, tem tesão, tem paixão. Ganho, perco, não tem erro, é assim. Sempre a verdade, um tanto de maldade boa. Sorte.

6.5.09

Como me livro de você se. Abro minhas pernas e vejo teus olhos pra mim assim: tá bom, né? Pois vai ficar melhor. Trata de arrumar mais um dedo ou dois e cumpre a promessa. Estou na sua mão.

14.4.09

dicotomia



Lembra que você me falou da ejaculacão feminina? Pesquisei. Achava que tinha mulher que podia e outras simplesmente não nasciam com o dom. Mas parece que qualquer uma pode. Existem técnicas. Engraçado essa coisa de técnica, mistura o sensorial com atenção, concentração. Tem que prestar atenção nas sensações e induzi-las pro caminho que você quer. Às vezes é lutar contra um reflexo natural do corpo. O deeptrhoat é assim, né. Na hora que vem o reflexo de engasgar com um troço na garganta, tem que se concentrar e fazer o movimento inverso, ou seja, abrir mais! Parece meio absurdo, até é, mas quando a gente consegue fica bom. Verdade, parecido com a dicotomia na hora do homem segurar o gozo. Era na cara de quem que você me disse que pensava? Então, descobri que para ejacular também é preciso treino e bastante concentração. O gozo sai pela uretra, parece que é vontade de fazer xixi, então a gente segura. É mais fácil com os dedos, no ponto G. Descobri um site todo dedicado a isso. Tudo fez sentido, pode ser bom pracaralho. Andei treinando. Você pode me ajudar. Mas só acredito vendo.

8.4.09


contemplate from Erica Gonsales on Vimeo.

24.3.09

Conversa



Você não devia se expor assim
Por quê?
Por que você faz isso?
Eu gosto.
Pior que você gosta...
Não vejo problema
Podem falar de você
Que falem, não me importo
Você sabia que tem um trilhão de garotas que fazem o que você faz?
E daí?
Você é só mais uma!
Nossa, você me ama e me admira muito, pelo jeito
É porque te amo que eu digo que você pode se estrepar
Não vejo como
Você podia só escrever, as fotos você põe pra alimentar teu ego
E não é que faz bem?
Você acha que faz bem... Mas vai ver
Tá me ameaçando? Que porra é essa?
Você tá cega e surda, me ouve!
Me diz uma coisa razoável
Eu te amo
Não ama desse jeito, como eu sou
Você mudou
Não sou mais apaixonada por você
Eu sei
...
Você era a mulher mais incrível que já conheci
E agora?
Você é fraca
Agora que eu não fico chorando por tua causa sou fraca?
...
Pára de me atacar pra amenizar tua dor
Não falo mais nada
Tá legal, então vou nessa
Escuta

Não tô te atacando, desculpa

Tem um projeto rolando aí...
De que?
Quero te propor, pra fazer um blog, uma coisa sensual
Ce é doido?
Quero te ajudar
Deus!
...
...
Vou cuidar de você pra sempre.
Eu sei.

18.3.09

escuro



Mal acordo e já sinto o coração disparado. O dia nem começou, não vi meus e-mails, meu telefone não tocou. Nada aconteceu além da falta de luz da noite passada, da falta de notícias. Continuo sem saber onde estou e pra que serve tudo isso. Apenas me distraio resolvendo problemas, pagando contas e bebendo vinho. Faço o que deve ser feito, carregando um gigantesco ponto de interrogação. Desisto de adivinhar respostas para não me desviar do que é necessário, para não sucumbir a algo que pode invadir meu sistema nervoso e sabotar minha razão.

Ontem vi um filme estranho. Três pessoas mergulhavam no poço de uma cachoeira e se metiam em cavernas submersas. Buscavam ar com desespero em espaços estreitos e escuros, projetando boca e nariz pra fora da água. Talvez por isso tenha acordado com o peito apertado. Sou claustrofóbica. Não há possibilidade mais aterrorizante pra mim do que me meter num lugar escuro, apertado e sem visão de saída.

Eu quero sair.

16.3.09



Feliz mesmo eu fico quando você me aparece com esse volume na bermuda.